Amado ou odiado? Polêmico!

Na poltrona do cinema

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Dia 12 de fevereiro. Daqui a exatos dez dias. Tem gente contando os minutos para ir para a frente daquela tela enorme dos cinemas e ver um pouquinho da caliente história de Christian Grey. A história não seria de um casal? Christian e Anastásia? Ah, fala sério! Apesar dela ser a protagonista também, ele é quem faz o show. As afixionadas pela trilogia “Cinquenta Tons de Cinza” vão de deliciar com a história de Grey no cinema. Os direitos das obras foram comprados por US$ 5 milhões pela Universal Pictures e Focus Features, e “Cinquenta Tons de Cinza – O Filme” já está gravado, sob os cuidados de Michael de Luca e Dana Brunetti, que trabalharam no premiado “A Rede Social”. A expectativa é de que o filme seja menos polêmico que o livro, uma vez que a história já levantou muita discussão. Aliás, já estão dizendo por aí que quem espera por cenas eróticas vai se decepcionar porque o filme traz mais cenas românticas do que as que retratavam os questíssimos encontros de Grey e Ana.

A trilogia “Cinquenta Tons de Cinza” (Fifty Shades of Grey) provoca admiração ou revolta, amor ou ódio, mas o que não dá é para ficar impassível à leitura que causou e ainda causa tanta polêmica. O livro da britânica E.L.James, publicado no Brasil pela editora Intrínseca, em menos de 20 dias desde o seu lançamento já havia vendido mais de 100 mil exemplares. Um total sucesso, que pode ser definido pelas palavras excitante, sensual e perigoso.
O livro, que conta sem pudor e detalhadamente carícias e perversidades de Christian Grey e Anastasia Steel, num romance diferente do que estamos acostumados a ler, é narrado em primeira pessoa por Ana. Ela é uma protagonista intrigante, extremamente imatura e que não imagina onde está se metendo ao começar um conturbado e devastador romance com Christian Grey, cujo estereótipo sedutor, sombrio e controlador encantam a jovem. Mas nada é perfeito e Ana terá que se submeter a ser submissa tanto de Grey quanto de seus próprios sentimentos e desejos.
Quem não gostou do livro alega que a autora mantém um aprofundamento raso sobre a vida e os segredos dos personagens – principalmente do estranho comportamento de Grey, prejudicando a qualidade da trama. Ela se mostra mais preocupada em extasiar o leitor com inúmeras páginas munidas de momentos íntimos entre os protagonistas, levando-o ao delírio com tanta sensualidade. As feministas querem queimar o livro, que, segundo elas, subverte décadas de lutas em favor da liberdade da mulher, posicionando-a como submissa. Mas no caso de Ana Steel, será que a submissão não é mais do que espontânea?
Por mais que haja toda uma explosão sexual na maioria das páginas, o que mais impressiona é o fato de que ao desenrolar do livro, Ana vai testando seus limites e encontra em Grey um homem cheio de angústia e segredos do passado, que contribuem para o seu comportamento mais do que bipolar e absurdamente controlador, tanto na parte sexual como na vida social. E aí surge uma discussão importante sobre até que ponto uma paixão pode influenciar e mudar nossas vidas, além do fator cultural que torna o sexo um grande tabu, principalmente quando envolve domínio, submissão e dor. Com um desfecho interessante, E L James amadurece a personagem principal e deixa de lado qualquer final “baunilha”, mostrando que a vida não é um conto de fadas e que para um relacionamento dar certo é preciso, além de tudo, equilíbrio entre ambas as partes. Ou seria um contrato?

Impressões sobre os 50 tons!
Um site de entretenimento perguntou a 50 mulheres o que elas acharam do livro “Cinquenta tons de cinza”. A maioria declarou: “não consegui parar de ler”. Outras disseram: “adoraria ter alguém como ele na minha vida”; “eu quero, eu preciso de um Christian Grey”; “é a história de alguém que muda alguém”; “preciso dos próximos (volumes)”; “meu marido ficou com ciúme do livro”; “acho o ato sexual dele maravilhoso”; “será que precisa de um contrato?”; “ela, sem perceber, domina um homem que jamais imaginou se submeter a um romance normal”; “não gostei do livro, achei fraco, mas não consegui parar de ler”.
E o que faz com que a maioria das pessoas não tenha conseguido parar de ler? A descrição minuciosa das cenas de sexo? O desejo por novidade? A vontade de aprender algo novo para usar num relacionamento que talvez esteja morno?

A psicóloga e terapeuta sexual Lara Jayme de Angelis Rosa, de Goiânia, nos explica a atração das mulheres por este livro. Segundo Lara, entre uma e outra cena tórrida de sexo, o livro é o relato da negociação das fantasias sexuais que o casal precisa fazer todo tempo, o que acaba acontecendo com a maioria dos casais, mas não no mesmo grau e intensidade. “O livro narra um relacionamento fora da realidade. Segundo pesquisas, um relacionamento saudável tem, em média, de duas a três relações sexuais por semana. O que acontece é que a mulher moderna, inserida no mercado de trabalho, quer ter prazer e se o casamento não a está satisfazendo ela idealiza que o marido se torne um Christian Grey ou busca fora do casamento alguém que vá lhe proporcionar este prazer”, explica Lara.
Ela lembra que o homem foi criado para ter prazer e a mulher para ser a cuidadora, mas que com a evolução a mulher está mudando e hoje ela expressa mais seu desejo. O livro surge, neste momento, como uma forma de tentar apimentar o relacionamento para satisfazer não só o desejo do homem como o desta nova mulher, que quer novidades. A submissão, no entanto, é algo que na opinião de Lara agrada a apenas um grupo, que já é submissa por causa da bagagem que trouxe do casamento. A dor é outro ponto polêmico e que intrigou Lara não como terapeuta, mas como mulher. “Não entendo uma pessoa ter prazer sentindo dor, mas as pessoas são diferentes e temos que aceitar estas diferenças”, comenta Lara.
Para Lara, a melhor maneira de apimentar um relacionamento que ficou morno por causa da rotina, dos filhos, do trabalho é seguir uma única regra: o casal tem que procurar ser eternos namorados e, para isto, é imprescindível investir na sedução. “A sedução é fundamental para resgatar a sexualidade. Uma lingerie sensual, mãos dadas e beijos de língua são recursos que devem ser adotados”, incentiva a terapeuta, reforçando que a sedução é a arma certa para enfrentar os momentos monótonos do casamento. No entanto, para o casal buscar junto o que quer da relação e preciso, acima de tudo, que cada um esteja realizado individualmente. “A mulher para ser feliz tem que primeiro pensar nela e depois na relação”, sugere a terapeuta.
O grande compositor João Gilberto disse que “é impossível ser feliz sozinho”, mas a maravilhosa Marisa Monte vem com a música “Satisfeito” nos provar que para fazer alguém feliz, antes de mais nada, é preciso ser feliz sozinho: “Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho? Vivo tranquilo, a liberdade é quem me faz carinho. No meu caminho não tem pedras, nem espinhos. Eu durmo sereno e acordo com o canto dos passarinhos”. A música fala exatamente o que Lara quer nos ensinar: para ter prazer e dar prazer é necessário, antes, estar plena e feliz. Voilá!

Um “Crepúsculo” com pimenta
Há quem garanta que “Cinquenta Tons de Cinza” é o “Crepúsculo” apimentado. Quem já leu os dois observa uma lista de semelhanças: uma heroína jovem, bonita e inteligente, mas insegura, filha única de pais separados, madura, porém inexperiente em relacionamentos, inacreditavelmente descoordenada e com um dom para atrair confusão. Um herói mais velho (guardadas as devidas proporções, já que Edward Cullen, de “Crepúsculo”, nasceu em 1901), impossivelmente belo e rico, dono de um temperamento volátil e de segredos sombrios – mas, no fundo, com um bom coração –, de gosto musical eclético e uma queda por veículos velozes. Uma narrativa centrada no relacionamento entre a heroína e o herói, recheada de referências sexuais, mais especificamente sadomasoquistas, com descrições detalhadas.
As semelhanças citadas acima não são mera coincidência. A britânica Erika Leonard James não faz questão nenhuma de esconder o fato de que seus “Cinquenta Tons” nasceram da história de “Crepúsculo”. Infeliz com seu emprego, a ex-gerente de produção de TV se apaixonou pela saga adolescente (ela afirmou em entrevista à “Veja” que leu os quatro livros em cinco dias) e imediatamente teve a inspiração de começar a escrever. Depois de descobrir o fan fiction – estilo em que fãs imaginam histórias paralelas derivadas de determinadas obras –, ela achou que apimentar a relação entre Edward e Bella “poderia ser um exercício divertido”, e foi daí que surgiu a sua trilogia. Suas primeiras edições foram publicadas em 2011 por uma pequena editora australiana em forma de e-book. Meses depois, já na Vintage Books, as vendas dos três livros a deixavam aproximadamente um milhão de dólares mais rica por semana. Em abril de 2012, ela foi nomeada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista “Time”. “Cinquenta Tons de Cinza” e suas sequências “Cinquenta Tons Mais Escuros” e “Cinquenta Tons de Liberdade” venderam mais de 40 milhões de cópias no mundo todo. tons tons2 tons3