Sendo feliz com Martha Medeiros

Desabafos semânticos
Um encontro de duas jornalistas em papis diferentes: tietagem pura com a super escritora Martha Medeiros

Um encontro de duas jornalistas em papis diferentes: tietagem pura com a super escritora Martha Medeiros

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“De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num SPA cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor… não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.(…) Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo”. Minha matéria poderia terminar aqui, com este trecho da crônica “Felicidade Realista”, do livro Montanha Russa, de Martha Medeiros.

Mas… Não dá para passar uma parte da manhã com Martha Medeiros e não explicar como esta jornalista gaúcha de 52 anos, divorciada, mãe de duas filhas de 17 e 22 anos, atingiu um estágio de serenidade tal que alguns apelidam de maturidade, outros, de sabedoria e que ela resume com o título de um de seus livros: é preciso apenas “Ser feliz por nada”. A escritora, que é uma das mais lidas, no Brasil, escreve para o jornal Zero Hora e para O Globo, tem vários livros publicados, é uma das autoras mais citadas nas postagens do Facebook, tem uma agenda lotada e consegue dar conta do recado e ainda ser feliz. Como? Ela dá a “receita” em várias de suas crônicas. Miss Imperfeita é uma delas. Repouso é outra. Em entrevista ao O Combate, Martha contou que aos 40 anos começou este processo de dar uma “refinada” na busca do que fazia sentido na sua vida. As filhas estavam crescendo e começavam a ser mais independentes. Era a vez dela se cuidar. Começava o que ela chama de “Juventude Parte II”. “Aos 50 anos cheguei à conclusão que é preciso saber dizer não, ser mais seletiva e aprender mais da vida. A partir do momento que comecei a tirar os ‘ais de mim” e me centrei na energia positiva, a passagem do tempo começou a ser mais tranqüila e a plenitude chegou com toda sua força”, conta Martha, explicando que ela tem a noção certa do tamanho das coisas e acredita que as tragédias são raras, o que mais existem são chatices.

A escritora decreta que a maturidade é a oportunidade de se desfazer de idéias feitas. “A vida premia quem está em movimento”, declara, brincando que gosta tanto desta frase que nem lembra mais se é mesmo dela! E movimento para Martha é muito mais do que ir à academia. Também é. Mas se cuidar para ela é um conceito mais amplo. Não reclamar da vida e fazer o possível para lidar com tranqüilidade com as agruras da vida é uma das atitudes que ela passa da teoria à prática, através de um longo treinamento. E ostentando um lindo bronzeado tailandês, Martha amplia sua idéia de movimento. Ler, viajar, conversar com as amigas e ter hábitos saudáveis são regras básicas na sua vida. “É imprescindível cuidar da saúde, mas vale lembrar que mais importante do emagrecer é não emburrecer”, diz, centrando sua crítica na ditadura da beleza e lembrando o quanto a literatura, a música e o cinema são importantes para alimentar a alma. A leveza com a qual Martha vive, mesmo em meio à agenda abarrotada, se deve a um fator, segundo ela, determinante: não sentir culpa. Faz o seu melhor, mas não sente a menor culpa do que não conseguiu fazer ou do que acham que ela deveria ter feito.

“Me livrei das várias culpas que nós mulheres que dividimos as obrigações da vida profissional e familiar, temos. Minha agenda pode estar lotada, mas sempre há espaço para o ócio, ainda que seja um ócio criativo. Quando caminho, encontro meus amigos ou viajo e aproveito este tempo para criar. Mas não viajo com notebook. Observo o que vejo à minha volta e depois aproveito as ideias para minhas crônicas. Não falo nada que ninguém não saiba, mas as pessoas gostam da maneira que escrevo e isto me faz muito bem”, comenta. Ela acrescenta que não escreve, no entanto, pensando se vai agradar o leitor, mesmo porque seu público é heterogêneo e cada vez mais tem participantes do universo masculino. Ela escreve pensando no que ela sente. Quando escreveu Divã, o livro que deu origem ao brilhante filme interpretado pela não menos brilhante Lilian Cabral, Martha se inspirou na sua vida. A personagem Mercedes tem muito dela. Cada mulher, cada miss imperfeita, tem muito de Martha e ela pega um pouco de cada uma de nós para escrever textos fantásticos que falam diretamente ao nosso coração e andam cada vez mais falando também com o público masculino, que está interessado em sentimentos e relações humanas, ponto crucial nas crônicas da escritora.

Ela dá um recado para homens e mulheres que apreciam sua maneira de escrever: “Sejam felizes, curtam o agora, cultivem o desapego e elejam o que lhes dá prazer. Ser feliz por nada não é ser um bobo alegre, mas tirar os lamentos desnecessários que colocamos na vida. Simplificar”. Mais simples impossível. Simples como a gaúcha que mostrou elegância, humildade e sensibilidade, fatores que a consagraram como a queridinha da literatura nacional. E a queridinha de quem sabe que viver vale muito a pena. Fazer o possível e aceitar o improvável. Não foi isto o que ela disse? Então vamos à luta, apreciar as coisas simples e ser muito feliz. Por nada.

2 comentários sobre “Sendo feliz com Martha Medeiros

  1. RENATA ,
    PARABÉNS PELA INICIATIVA DE CRIAR O SEU BLOG .SIGA EM FRENTE E MUITAS FELICIDADES .
    ADOREI A MATÉRIA SOBRE A BRILHANTE ESCRITORA MARTA MEDEIROS .
    VALEU MUITO A PENA DEGUSTAR SEU TEXTO TÃO GOSTOSO DE LER .
    QUE VENHAM NOVAS MATÉRIAS DE UMA JORNALISTA TÃO ESPECIAL .
    COM CARINHO ,
    CLÁUDIA REZENDE .

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