Agnósticos e ateus mostram tanto caráter como religiosos

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ateu

Eu sempre ouvi a frase “leve seu filho a uma igreja e nunca irá visitá-lo na cadeia”. A sentença não especificava em qual igreja, mas revelava a importância de apresentar ao filho os valores de uma religião. Eu concordo com a ideia proposta, mas vou além: mais do que religião, é importante o exemplo e agir no bem só para agradar a Deus, por temor, não é suficiente. É preciso agir no bem pelo simples fato de que devemos viver sob o seguinte preceito: fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem. A religião tem, sim, a meu ver, um papel muito importante na formação das pessoas, mas a principal mensagem que ela traz, além do amor, é respeito e o que se vê é uma briga enorme entre religiões e uma falta de respeito absurda. Guerras em nome de Deus, competições de qual igreja tem mais fiéis e um farisaismo mal disfarçado marcam o panorama mundial. E a falta de respeito se estende a quem não tem uma religião, ou seja, os ateus (que não acreditam em Deus) e os agnósticos (que não têm religião).

Não estou fazendo uma apologia à falta de religião ou questionando a existência de Deus. Ao contrário: eu, particularmente, tenho certeza da existência d’Ele, de Sua bondade e do Seu amor por nós. O que estou propondo é ampliarmos o respeito às diferenças, em todos os âmbitos, inclusive religiosos. Neste sentido, deixo a vocês um texto polêmico e muito interessante, que vai gerar muita reflexão e, espero, aumentar nosso respeito por pessoas que não participam de nenhuma igreja, não têm religião, mas agem no bem, são excelentes pessoas e, mesmo sem saber, fazem exatamente o que Cristo nos sugeriu: amar ao próximo como a si mesmo!

Liberem-se de preconceitos e tenham uma boa leitura!!!

Crianças sem religião nos EUA têm forte senso de moralidade, diz estudo
Longe de ser disfuncional, niilista e sem rumo, sem a suposta retidão pregada pela religião, as famílias seculares estão proporcionando aos seus filhos uma sólida base moral, baseando-se em um princípio simples: a reciprocidade empática
Mais crianças estão “crescendo sem Deus” do que em qualquer outro momento na história dos Estados Unidos. Elas são descendentes de uma população secular em expansão que inclui uma relativamente nova e crescente categoria de americanos chamada de nones. São assim apelidados porque afirmam não acreditar em “nada em particular“, de acordo com estudo de 2012 pelo Centro de Pesquisas Pew.
O número de crianças sem religião tem aumentado significativamente desde a década de 1950, quando menos de 4% dos americanos relataram que cresceram em uma família não religiosa, segundo estudos recentes.
Esse número atingiu a casa dos dois dígitos quando um estudo de 2012 mostrou que 11% das pessoas nascidas depois de 1970 disseram que tinham sido criadas em lares seculares. Isso pode ajudar a explicar por que 23% dos adultos nos EUA afirmam não ter religião, e mais de 30% entre as idades de 18 e 29 dizem o mesmo.
Então como tem sido a formação moral dessas crianças que não oram antes das refeições nem vão à escola dominical? Vai indo muito bem, ao que parece.
Longe de ser disfuncional, niilista e sem rumo, sem a suposta retidão pregada pela religião, as famílias seculares estão proporcionando aos seus filhos uma sólida base moral, de acordo com o professor de sociologia Vern Bengston.
Por quase 40 anos, Bengston tem supervisionado o Estudo Longitudinal de Gerações, que se tornou o maior estudo da religião e da vida familiar conduzida em várias extratos geracionais nos Estados Unidos.
Quando notou que crescimento dos nones estava se acentuando, Bengston adicionou em 2013 as famílias seculares em seu estudo, na tentativa de entender como está ocorrendo as influências entre as gerações dos sem religião.
Ele ficou surpreso com o que encontrou: altos níveis de solidariedade familiar, com proximidade emocional entre pais e jovens não religiosos, e fortes padrões éticos e valores morais transmitidos de uma geração para outra.
“No estudo, muitos pais não religiosos eram mais coerentes e apaixonados por seus princípios éticos do que alguns dos pais religiosas“, disse Bengston.
“A grande maioria parecia ter metas firmadas por valores morais e uma vida com propósito.”
Minha própria pesquisa em curso entre os americanos seculares — e de outros cientistas sociais que voltaram recentemente o seu olhar sobre a cultura secular — confirma que a vida familiar de não religiosos está repleta de valores morais de sustentação e de preceitos éticos enriquecedoras.
Destacam-se nessas famílias a solução racional de problemas, a autonomia pessoal, a independência de pensamento, ausência de punição corporal, um espírito de “questionar tudo” e, acima de todo, a empatia.
Para as pessoas seculares, a moral se baseia em um princípio simples: a reciprocidade empática, conhecida como “Regra de Ouro”. Tratar os outros como você gostaria de ser tratado. É uma antiga, imperativa ética universal. E não requer crenças sobrenaturais.
Debbie, a mãe em uma dessas famílias, disse: “A maneira de ensinar aos filhos o que é certo e o errado é incutir neles um sentimento de empatia. É tentando lhes dar a sensação de como é estar do outro lado de suas ações. E eu não vejo nenhuma necessidade de Deus nisso.”
“Se a sua moral é toda ligada a Deus, isso significa que o seu universo moral pode desmoronar a qualquer momento, em situação em que a existência do sobrenatural possa ser colocada em dúvida. A forma como estamos ensinando nossos filhos não se preocupa no que eles possam escolher em acreditar mais tarde. Mesmo que se tornem religiosos ou qualquer outra coisa, eles ainda vão ter essa estrutura de pensamento.”
Estudos de 2010 da Universidade de Duke descobriram que os adolescentes seculares quando amadurecem estão menos propensos ao racismo do que os jovens religiosos.
Estudos psicológicos mostram que adultos seculares tendem a ser menos vingativos, menos nacionalistas, menos militaristas, menos autoritários e mais tolerantes, em média, do que os religiosos da mesma faixa etária.
Uma pesquisa recente mostrou também que as crianças nones tendem a permanecer sem religião à medida que envelhecem.
Adultos seculares são mais propensos a compreender e aceitar a ciência sobre o aquecimento global e também apoiam mais a igualdade das mulheres e os direitos dos homossexuais.
Os ateus eram quase ausente da população carcerária até 1990, compreendendo menos de metade de 1% dos presidiários, de acordo com pesquisa do Federal Bureau of Prisons.
Isso reflete o que a criminologia tem documentado por mais de um século: os sem igrejas e os não religiosos se envolvem muito menos em crimes.
Outro fato significativo: os países democráticos com os mais baixos níveis de fé religiosa — como aSuécia, Dinamarca, Japão, Bélgica e Nova Zelândia — têm as mais baixas taxas de crimes violentos do mundo e desfrutam de altos níveis de bem estar social.
Eu sei da angústia de pais seculares quando eles não conseguem ajudar seus filhos. Por isso, cabe a pergunta: eles estariam cometendo um erro ao criar seus filhos sem religião?
A resposta inequívoca é não. Crianças educadas sem religião não carecem de virtudes, e elas devem ser muito bem recebidas na sociedade como um grupo que está crescendo.
Phil Zuckerman

Eu não disse isto!

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lembrar (380)

Hoje em dia não dá mais para acreditar em tudo o que se lê na internet. Fernando Pessoal, Gabriel García Marques, Pablo Neruda, Arnaldo Jabor, só para citar alguns, têm frases creditadas a eles que quem os estuda a fundo e conhece bem suas obras sabe que o crédito é infundado. Só para citar dois que me deram entrevista e que comentaram o assunto: Tim Maia, quando morava no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, me recebeu na sua casa e contou que muito boato que atribuiam a ele não passava de mentira. Um deles era a músiva “Gostava tanto de você”, que já disseram ter sido feita por “n” motivos, quando na verdade foi feita quando ele queria de volta a mulher que partiu enquanto eles estavam no exterior. Nada de morte. Nada de filhos. Só uma dor de amor.

Mais recentemente entrevistei a brilhante Martha Medeiros que esclareceu que ela sequer tem perfil no Facebook. Seu nome, no entanto, com fotos e tudo o mais, está em várias páginas ditas de sua autoria. O mesmo acontece com frases que atribuem a ela. Muitas são, de fato, extraída de seus livros. Boa parte, no entanto, nunca foi dita ou escrita pela autora. Ela deixou claro o quanto isto a incomoda e pediu que mesmo os bens intencionados coloquem perfis verdadeiros, ainda que o propósito seja divulgar suas obras.

Isto nos mostra a fragilidade das informações contidas na internet. Se a rede surgiu para facilitar nosso trabalho de pesquisa, para diminuir distância, aproximar amigos e também nos proporcionar a oportunidade de ter acesso a um mundo de informações, ela também traz muita coisa negativa: a super exposição de nossas crianças e adolescentes, o acesso a material indevido, a disseminação de boatos, inverdades e o uso até mesmo para crimes virtuais.

Ou seja, está mais do que na hora de usarmos o que melhor temos para poder frear um pouco esta onda de mentiras que circulam na rede. Chequem! Chequem sempre todas as informações com várias fontes antes de repassá-las. Não vamos ser levianos repassando fotos de crianças perdidas, de pessoas acusadas deste ou daquele crime, por mais bem intencionados que estejamos. Vale a pena checar se a informação procede porque, como já dizia o sábio, uma palavra uma vez proferida é como uma pedra ao vento, não se sabe onde vai atingir.

Já vi um caso de uma foto de criança que estava sendo divulgada como perdida e que era, no entanto, filha de um médico famoso. A brincadeira de extremo mau gosto foi feita por alguém que queria fazer uma retaliação por não ter sido atendido como esperava. Tommy Hilfiger, o estilista americano, teve que ir no programa da também norte-americana Oprah Winfrey para desfazer um boato que foi divulgado no Face de que ele não fazia roupas para latinos. O boato trouxe prejuízo e causou muita confusão e ele teve que se desdobrar para desfazer o problema, uma vez que seus fiéis consumidores são, em grande parte, latinos.

Enfim, chequem. Sempre. Procurem sites idôneos, jornais impressos, revistas, enciclopédias. Livros. Não se atenham à informação que nos é jogada goela abaixo. Com isto você estará promovendo duas ações úteis: aumentando seu conhecimento e evitando que pessoas más intencionadas tenham êxito em suas aberrações.

Boa semana a todos!

 

 

Obrigada!

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Rodeio

 

“Fazer o bem e não olhar a quem, que o obrigado nem sempre vem”. Sempre ouvi esta frase e a achei muito interessante. Ela me faz pensar sobre expectativas e sobre gratidão. Fazer tudo sem esperar nada em troca, sem esperar sequer gratidão, representada, entre outras formas, pela simples palavra “obrigado”. Sinceramente? Não consigo lidar bem com a falta de gratidão… Não entendo as pessoas que não cultivam este sentimento tão precioso. É um dos sentimentos mais nobres do mundo, mais valorizados e mais puros. Pensei muito nesta palavra hoje quando tive tempo de sentar, conectar o Facebook e ler, um a um, os votos de feliz aniversário que recebi.

Minha vontade era responder uma a uma, cada uma daquelas lindas mensagens. Mas cadê o tempo para isto? Me vi diante da impossibilidade de demonstrar a minha gratidão de forma precisa e individual. E pensei que muitas vezes as pessoas não demonstram gratidão não porque não são agradecidas, mas por pura falta de tempo, de condições, até mesmo por não verem a necessidade de manifestar algo que já está claro. E aí me deparei com a questão das expectativas! Este lance de esperar do outro o que gostaríamos que ele fizesse não é saudável. O bacana é entender que ninguém e nada pode interferir na nossa escolha. Se escolhemos ser felizes vamos procurar o caminho para alcançar estes momentos tão preciosos, sem depositar no outro qualquer expectativa ou responsabilidade pela nossa felicidade. Se alguém nos ofende, decidimos acolher a ofensa ou simplesmente ignorá-la. Se algo nos irrita, escolhemos olhar para o lado bom da vida e deixar o que nos aborrece para lá ou passar o dia mal humorado. Ou seja, escolhas! Limitei minhas reflexões, que passaram da gratidão e da expectativa a uma filosofia de bar: a vida se resume a dois fatores incontestáveis e fundamentais – escolhas e equilíbrio!

Pois que as escolhas sejam sempre as que nos façam leves e felizes e que o equilíbrio seja o ponto de partida para tornar a vida gostosa e divertida. E as expectativas? Vamos deixar por nossa conta! Esperar apenas o que depende de nós! E a gratidão??? Ah, esta não tenho como negar: é indispensável. Pelo menos para mim. E justamente em função deste sentimento que tanto prazo que agradeço cada palavra bonita que recebi por ocasião do meu aniversário, no dia 7 de janeiro.

MUITO OBRIGADA às amigas queridas que enalteceram qualidades que eu sequer sabia que tinha. Será que tenho mesmo ou elas é que escolheram me ver assim? Escolhas! Oba! Muitas vezes elas beneficiam não só quem as faz, mas quem está à sua volta.

MUITO OBRIGADA às pessoas que sequer conheço pessoalmente, mas que fizeram questão de expressar seus votos por meio de mensagens no Facebook.

MUITO OBRIGADA a todos que utilizaram parte do seu tempo para me lembrar que gratidão é mesmo um sentimento que não sai de moda.

No melhor estilo Très Jolie, merci beaucoup! Um ano a mais de vida foi ótimo para lembrar como é bom não ter expectativas, ter feito boas escolhas e contar com o carinho de vocês. Muito obrigada!

Adeus ano velho, feliz ano novo!

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ano

 

E lá se foi mais um ano…

Uma noite muda tudo. Você dorme em 2014 e acorda em 2015. Uma única noite e tantas decisões. Aquelas compartilhadas por um grande número de pessoas: preciso perder alguns quilinhos (ou, infelizmente, muitos quilinhos!); tenho que voltar a fazer ginástica; preciso cuidar melhor da minha saúde; vou economizar mais para fazer aquela viagem tão sonhada; vou ter mais paciência com pessoas e coisas que me tiram do sério; vou meditar mais; preciso estudar uma língua; aprender uma arte; enfim, preciso urgente me renovar. E tem aquelas decisões inadiáveis, bem particulares, bem peculiares: tirar o peso das amarras que nos impedem de seguir adiante; romper com pessoas e coisas que não nos fazem bem; ter dignidade de admitir as falhas do ano anterior, da década anterior, as falhas de uma vida inteira; buscar forças para seguir, sempre de cabeça erguida, no melhor estilo cantado por Leila Pinheiro, com “a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”.

Uma noite.

Ela tem que ser suficiente para refletirmos sobre as mudanças necessárias, inadiáveis, e para ter serenidade de saber quais mudanças podem esperar. Melhor: a noite da virada serve para nos mostrar o que sequer é preciso mudar. Vivemos num mundo de mudanças tão rápidas, de uma necessidade tão grande de agradar, de ser visto, reconhecido, amado, de saciar desejos insaciáveis, que muitas vezes não percebemos que mais do que mudar é preciso TRANSFORMAR!

Transformar a estrutura familiar que está capenga, a comunidade que está corrompida, a sociedade que está vivendo uma paradoxal inversão de valores. Transformar o dia de alguém com um simples sorriso, com um elogio sincero. Transformar o bairro que moramos em um local mais limpo, mais agradável, a partir do nosso próprio comportamento, do nosso próprio exemplo. Transformar nossa cidade com ações que passam pela denúncia do que é visto de errado às atitudes que mostram o que é certo. Transformar o dia de alguém, sendo um lenitivo na aspereza do dia a dia, sendo o ombro amigo, sendo o afago necessário.

Portanto, meus amigos, a palavra de ordem, acima de renovação, é transformação!

Que venham as transformações internas e externas em 2015 e que cada uma delas contribua para que tenhamos não apenas um ano melhor, mas que sejamos agentes de transformação de um mundo melhor.

Feliz 2015 para cada um de vocês!

A “cordialidade” nas eleições presidenciais

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politica

Já falei sobre a importância do respeito às ideias opostas às nossas em um texto, no qual cito a célebre frase “não concordo com uma palavra do que dizes, mas defendo até a morte o teu direito de dizê-las”, mas resolvi abordar o assunto novamente depois que li a brilhante explanação creditada ao teólogo Leonardo Boff. Ele resumiu parte do que penso no texto que reproduzo logo abaixo e mesmo que Boff tenha lá seu lado meio petista de ser (e eu seja completa e genuinamente apartidária, não por ser jornalista, mas sim por opção: sempre voto em pessoas, não pelas promessas, mas pelo que elas fizeram), achei importante abordar seu pensamento. Leonardo Boff fala sobre cordialidade. Qualquer pessoa que fale sobre este assunto tem o meu respeito. Aliás, RESPEITO é uma das palavras que mais levo a sério. CORDIALIDADE também. Esta última palavra significa “que vem do coração”. Vamos lá a um pensamento que pode ajudar a aquecer nossa discussão sobre ética, política e bem comum:

“Dizer que o brasileiro é um “homem cordial” vem do escritor Ribeiro Couto, expressão generalizada por Sérgio Buarque de Holanda em seu conhecido livro: “Raizes do Brasil” de 1936 que lhe dedica o inteiro capítulo Vº. Mas esclarece, contrariando Cassiano Ricardo que entendia a “cordialidade”como bondade e a polidez, que “nossa forma ordinária de convívio social é no fundo, justamente o contrário da polidez”(da 21ª edição de 1989 p. 107). Sergio Buarque assume a cordialidade no sentido estritamente etimológico: vem de coração. O brasileiro se orienta muito mais pelo coração do que pela razão. Do coração podem provir o amor e o ódio. Bem diz o autor:”a inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, visto que uma e outra nascem do coração”(p.107).
Escrevo tudo isso para entender os sentimentos “cordiais” que irromperam na campanha presidencial de 2014. Houve por uma parte declarações de entusiasmo e de amor até ao fanatismo para os dois candidatos e por outra, de ódios profundos, expressões chulas por parte de ambas as partes do eleitorado. Verificou-se o que Buarque de Holanda escreveu: a falta de polidez no nosso convívio social.
Talvez em nenhuma campanha anterior se expressaram os gestos “cordiais” dos brasileiros no sentido de amor e ódio contidos nesta palavra. Quem seguiu as redes sociais, se deu conta dos níveis baixíssimos de polidez, de desrespeito mútuo e até falta de sentido democrático como convivência com as diferenças. Essa falta de respeito repercutiu também nos debates entre os candidatos, transmitidos pela TV. Para entender melhor esta nossa “cordialidade” cabe referir duas heranças que oneram nossa cidadania: a colonização e a escravidão. A colonização produziu em nós o sentimento de submissão, tendo que assumir as formas políticas, a língua, a religião e os hábitos do colonizador português. Em consequência criou-se a Casa Grande e a Senzala. Como bem o mostrou Gilberto Freyre não se trata de instituições sociais exteriores. Elas foram internalizadas na forma de um dualismo perverso: de um lado os senhor que tudo possui e manda e do outro o servo que pouco tem e obedece ou também a hierarquização social que se revela pela divisão entre ricos e pobres. Essa estrutura subsiste na cabeça das pessoas e se tornou um código de interpretação da realidade e aparece claramente nas formas como as pessoas se tratam nas redes sociais.
Outra tradição muito perversa foi a escravidão. Cabe recordar que houve uma época, entre 1817-1818, em que mais da metade do Brasil era composta de escravos (50,6%). Hoje cerca de 60% possui algo em seu sangue de escravos afro-descendentes. O catecismo que os padres ensinavam aos escravos era “paciência, resignação e obediência”; aos escravocratas se ensinava “moderação e benevolência” coisa que, de fato, pouco se praticava.
A escravidão foi internalizada na forma de discriminação e preconceito contra o negro que devia sempre servir. Pagar o salário é entendido por muitos ainda como uma caridade e não um dever, porque os escravos antes faziam tudo de graça e, imaginam que devem continuar assim. Pois desta forma se tratam, em muitos casos, os empregados e empregadas domésticas ou os peões de fazendas. Ouvi de um amigo da Bahia que escutou uma senhora, moradora de um condomínio de alta classe dizer:”os pobres já recebem a bolsa-família e além disso creem que têm direitos”. Eis a mentalidade da Casa Grande.
As consequências destas duas tradições estão no inconsciente coletivo brasileiro em termos, não tanto de conflito de classe (que também existe) mas antes de conflitos de status social. Diz-se que o negro é preguiçoso quando sabemos que foi ele quem construiu quase tudo que temos em nossas cidades. O nordestino é ignorante, porque vive no semi-árido sob pesados constrangimentos ambientais, quando é um povo altamente criativo, desperto e trabalhador. Do nordeste nos vêm grandes escritores, poetas, atores e atrizes. No Brasil de hoje é a região que mais cresce economicamente na ordem de 2-3%, portanto, acima da média nacional. Mas os preconceitos os castigam à inferioridade.
Todas essas contradições de nossa “cordialidade” apareceram nos twitters, facebooks e outras redes sociais. Somos seres contraditórios em demasia.
Acrescento ainda um argumento de ordem antropológico-filosófica para compreender a irrupção dos amores e ódios nesta campanha eleitoral. Trata-se da ambiguidade fontal da condição humana. Cada um possui a sua dimensão de luz e de sombra, de sim-bólica (que une) e de dia-bólica (que divide). Os modernos falam que somos simultaneamente dementes e sapientes (Morin), quer dizer, pessoas de racionalidade e bondade e ao mesmo tempo de irraconalidade e maldade. A tradição cristã fala que somos simultaneamente santos e pecadores. Na feliz expressão de Santo Agostinho: cada um é Adão, cada um é Cristo, vale dizer, cada um é cheio de limitações e vícios e ao mesmo tempo é portador de virtudes e de uma dimensão divina. Esta situação não é um defeito mas uma característica da condition humaine. Cada um deve saber equilibrar estas duas forças e na melhor das hipóteses, dar primazia às dimensões de luz sobre as de sombras, as de Cristo sobre as do velho Adão.
Nestes meses de campanha eleitoral se mostrou quem somos por dentro, “cordiais” mas no duplo sentido: cheios de raiva e de indignação e ao mesmo tempo de exaltação positiva e de militância séria e auto-controlada.
Não devemos nem rir nem chorar, mas procurar entender. Mas não é suficiente entender; urge buscar formas civilizadas da “cordialidade” na qual predomine a vontade de cooperação em vista do bem comum, se respeite o legítimo espaço de uma oposição inteligente e se acolham as diferentes opções políticas. O Brasil precisa se unir para que todos juntos enfrentemos os graves problemas internos e externos (guerras de grande devastação e a grave crise no sistema-Terra e no sistema-vida), num projeto por todos assumido para que se crie o que se chamou de o Brasil como a “Terra da boa Esperança ”(Ignacy Sachs).”
(Leonardo Boff é teólogo e professor emérito de ética da UERJ)

Emoções ou doenças?

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Ficar de luto é o mesmo que estar doente? Qual o limite entre melancolia e depressão? Momentos de tristeza são normais? Quem disse que se não estivermos felizes o tempo todo podemos ser rotulados como doentes? Criança agitada sempre é hiperativa? Estas e muitas outras perguntas surgiram na mídia nacional e nas publicações estrangeiras diante das novas doenças que estão sendo descritas pela Associação Americana de Psiquiatria, no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, sigla em inglês para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). Com a atual versão do manual que guia psiquiatras em todo o mundo, deve aumentar o número de pessoas diagnosticadas com males psiquiátricos e há quem tema que a fronteira entre normalidade e doença esteja cada vez menos nítida.

Considerado a bíblia da psiquiatria mundial, O DSM-5 é resultado de uma década de debates entre 1.500 especialistas e de um compilado de novas descobertas feitas desde a publicação da última versão revisada do manual, há 13 anos. O livro inclui vários novos distúrbios diagnosticáveis a partir apenas de seus sintomas a uma lista de mais de 300 patologias que alguns críticos afirmam que tornarão a “normalidade” tão incomum que ela será quase como uma loucura.

Allen Frances, professor emérito da Universidade de Duke, nos EUA, responsável por coordenar a revisão anterior do manual, publicada em 1994, aconselhou, em texto publicado no site “Huffington Post”, os colegas a simplesmente não adotarem a nova versão. Já para os pacientes, Frances disse que eles não devem aceitar diagnósticos com base em avaliações comportamentais breves. “Um diagnóstico psiquiátrico pode representar uma mudança benéfica na sua vida se correto, ou um grande dano se não”, escreveu, completando: “Tome tanto cuidado ao acatar um diagnóstico quanto quando vai comprar uma casa ou um carro. Nunca aceite um diagnóstico ou tome pílulas prescritas após uma avaliação breve”.

Já David J. Kupfer, que revisou esta edição, defendeu o trabalho. Segundo ele, o livro agora estrutura as desordens num contexto que leva em conta idade, gênero e expectativas culturais, além de melhor caracterizar sintomas em termos de manifestação, duração e severidade. Para ele, as mudanças no manual vão ajudar os médicos a identificar mais precisamente as desordens mentais e melhorar o diagnóstico enquanto eles mantêm um cuidado continuado dos pacientes. Ou seja, com a nova versão do documento, a psiquiatria ganha não só algumas novas doenças, mas também, como consequência natural dessas mudanças, reacende-se o debate sobre qual é, de fato, o limite entre o comportamento humano normal e os sintomas de uma doença psiquiátrica que precisa ser tratada.

Novas doenças

O novo manual passa a classificar como transtorno mental comportamentos como comer excessivamente, acumular coisas ou mudanças de humor repentinas típicas de crianças e adolescentes, enquanto a tristeza comum do luto pela perda de um parente próximo poderá ser vista como sinal de depressão grave. Em outra decisão polêmica, autismo, Síndrome de Asperger e as desordens da infância e do desenvolvimento passam a integrar uma única categoria de Desordem de Espectro Autista.

Uma das mudanças que estão presentes no novo manual é a criação de um novo diagnóstico para crianças que têm humor instável, mas que não seguem todos os critérios para serem diagnosticadas com transtorno bipolar. Trata-se do “transtorno disruptivo de desregulação do humor”, que pode ser apresentado por crianças que apresentam irritabilidade persistente e episódios frequentes de surtos de comportamento três ou mais vezes por semana por mais de um ano. A decisão de criar esse novo diagnóstico gerou muita discussão entre os psiquiatras.

Outra alteração controversa diz respeito aos critérios para o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O número de sintomas permanece o mesmo. São 18, divididos em dois grupos – falta de atenção e hiperatividade/impulsividade -, e é preciso apresentar pelo menos seis sintomas. A idade, que era de até sete anos, passou a ser de até 12.

O luto também está gerando polêmica. Na edição anterior do DSM, pacientes que estavam em luto eram excluídos do diagnóstico, mesmo que apresentassem os sintomas, a não ser que o comportamento persistisse por mais de dois meses. Agora, após duas semanas, mesmo em luto, o paciente poderá receber diagnóstico de depressão. Complicado, não? Determinar um prazo para o sofrimento de cada pessoa, sem levar em conta sua história em relação a quem acabou de perder é, no mínimo, polêmico.

Banalização de emoções

Será que ninguém pode ficar triste que já tem que recorrer a um remédio? Lou Marinoff não pergunta com estas mesmas palavras, mas é exatamente o que ele quer dizer com “Mais Platão, Menos Prozac”. O livro tenta  mostrar como identificar um problema, expressar emoções construtivamente, analisar opções e contemplar uma filosofia que ajude a escolher a melhor opção, resgatando o equilíbrio pessoal. Lou Marinoff é o principal líder, nos Estados Unidos, dessa nova corrente de pensamento que aplica a filosofia ao dia-a-dia, utilizando as obras dos maiores pensadores da história para ajudar as pessoas a resolverem seus próprios problemas.

Professor de filosofia no City College de Nova York, Marinoff acredita que a maioria dos problemas psicológicos atuais pode ser atenuada pelo aconselhamento filosófico. Quem procura Marinoff não está interessado em manter longas conversas e nem quer encontrar a saída dentro de um frasco de antidepressivos. Quem vai ali busca uma nova filosofia, através do aconselhamento filosófico proposto por Marinoff, Platão, Aristóteles, Kant e Kierkegaard, entre outros, são tão úteis quanto Freud, Lacan e Jung.

“Pergunte a Platão”, também de Marinoff, aponta caminhos e soluções para nossos problemas, ajudando cada um a recuperar o sentimento de bem-estar. Neste livro, ele deixa claro que tanto a psicologia quanto a psiquiatria, e o consequente uso de medicamentos, têm, sim, o seu devido lugar. Há, segundo ele, problemas de ordem química que necessitam da intervenção de medicamentos e há patologias que requerem, de fato, sessões de terapia. Mas tomar remédio porque ficou triste porque seu time perdeu ou porque brigou com o namorado será que é mesmo necessário? O que ele destaca é a necessidade de não banalizar sentimentos e emoções e sair à caça de remédios que camuflam o que realmente está causando determinado problema.

No lugar da alopatia, sabedoria. Ele afirma que dependentes de psicofármacos podem ter seus problemas explicados pelos diálogos socráticos. Ou seja, ratifica um movimento que recolocou a filosofia num lugar de destaque, sendo útil em todos os momentos da vida, e vai além, aplicando séculos de filosofia e literatura para ajudar a responder questões centrais da vida moderna.

Quero mudar do Brasil

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Brasil

Sempre fui daquele tipo de nacionalista que se emociona quando ouve o Hino Nacional, que se orgulha de morar num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas minha indignação é tanta que decidi: quero mudar do Brasil, já que não posso mudar o Brasil!

Fiz jornalismo pensando em como poderia contribuir para informar, formar, provocar mudanças e minhas frustrações começaram lá atrás, quando descobri que os veículos de comunicação nem sempre são isentos. As frustrações como cidadã, no entanto, são bem maiores. Fui assaltada no Rio de Janeiro e quando sugeri que o policial rastreasse meu carro pelo meu celular, que estava com os ladrões, ele teve a cara de pau de me perguntar: “Você acha mesmo que vamos subir o morro para pegar seu carro e colocar nossa vida em risco?” Sim, eu achava. Eu pago um dezena de impostos. Eu achava que tinha direito à segurança pública. Eu achava que tinha direito à saúde pública. Eu pensava que meus filhos deveriam estudar em uma escola pública de qualidade, na qual professores fossem pagos e tratados com o devido respeito que merecem.

Nossos valores chegaram a um nível de distorção que me assusta: fumar maconha é um direito? Tudo bem se você aprova ou faz uso, mas utilize um local privado. Fui abordar um carro de polícia para avisar que um grupo estava se drogando em pleno meio dia, em uma movimentada praça de Jaboticabal, e o policial só faltou me dizer que eu o estava incomodando. “É um problema social, minha senhora”. Sim, o problema é social, concordo, e exige uma profunda reflexão que passa pela distribuição de renda, pela falta de políticas que criem alternativas para crianças e jovens em situação de risco e que passa pela consciência de eleitores que vendem seu voto ou o usam como forma de deboche e elegem, desta forma, pessoas que não têm o menor comprometimento com a sociedade. O mais engraçado foi que a viatura policial continuou seu trajeto até a praça fazendo várias conversões sem sequer sinalizar. Setas!! Outra grande frustração! Por que as pessoas não utilizam este pequeno sinal par avisar que vão fazer conversões, sair do estacionamento, enfim, para mostrar para o outro que sabem que o trânsito é um espaço coletivo e o respeito é indispensável.

Aliás, no Brasil a palavra respeito anda em desuso. Está fora de moda. Motorista parar na faixa para o pedestre passar, pessoas aguardarem sem furar fila, bancos colocarem mais funcionários para que os clientes não fiquem tanto tempo nas filas, prefeituras instalarem lixeiras nas ruas para que as poucas pessoas que têm consciência possam descartar seus lixos, vagas de deficientes serem ocupadas apenas por deficientes, vagas de idosos por idosos… Demosntrações de civilidade e respeito, que estão out. Quero estar sempre na moda, mas não só no mundo fashion! Quero viver num país onde o policial dê atenção à vítima e que ele receba um salário justo para colocar sua vida em risco. O nome disto? Respeito! Quero ver como celebridade aquela mulher que descobriu um método de educação alternativo, que ajudou na inclusão social. Quero ter como modelo o profissional que fez do seu trabalho uma maneira de colaborar com a humanidade e não uma vitrine para seu próprio ego. Existem muitas pessoas de extremo valor neste Brasil varonil, mas infelizmente os exemplos que tenho visto de corrupção nas iniciativas pública e privada, empresas que exploram seus funcionários e funcionários que trapaceiam, os espertos que fazem gato, pirataria, que se vangloriam de levar vantagem, este tipo de brasileiro, lamento, tem meu profundo desprezo. E eles estão proliferando para a tristeza de quem ainda acredita que honestidade, justiça e respeito são valores que ajudam a realizar o sonho do próximo e nos permitem ter o sono dos justos. Por estas e por outras que quero mudar do Brasil…

Sendo feliz com Martha Medeiros

Desabafos semânticos
Um encontro de duas jornalistas em papis diferentes: tietagem pura com a super escritora Martha Medeiros

Um encontro de duas jornalistas em papis diferentes: tietagem pura com a super escritora Martha Medeiros

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“De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num SPA cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor… não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.(…) Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo”. Minha matéria poderia terminar aqui, com este trecho da crônica “Felicidade Realista”, do livro Montanha Russa, de Martha Medeiros.

Mas… Não dá para passar uma parte da manhã com Martha Medeiros e não explicar como esta jornalista gaúcha de 52 anos, divorciada, mãe de duas filhas de 17 e 22 anos, atingiu um estágio de serenidade tal que alguns apelidam de maturidade, outros, de sabedoria e que ela resume com o título de um de seus livros: é preciso apenas “Ser feliz por nada”. A escritora, que é uma das mais lidas, no Brasil, escreve para o jornal Zero Hora e para O Globo, tem vários livros publicados, é uma das autoras mais citadas nas postagens do Facebook, tem uma agenda lotada e consegue dar conta do recado e ainda ser feliz. Como? Ela dá a “receita” em várias de suas crônicas. Miss Imperfeita é uma delas. Repouso é outra. Em entrevista ao O Combate, Martha contou que aos 40 anos começou este processo de dar uma “refinada” na busca do que fazia sentido na sua vida. As filhas estavam crescendo e começavam a ser mais independentes. Era a vez dela se cuidar. Começava o que ela chama de “Juventude Parte II”. “Aos 50 anos cheguei à conclusão que é preciso saber dizer não, ser mais seletiva e aprender mais da vida. A partir do momento que comecei a tirar os ‘ais de mim” e me centrei na energia positiva, a passagem do tempo começou a ser mais tranqüila e a plenitude chegou com toda sua força”, conta Martha, explicando que ela tem a noção certa do tamanho das coisas e acredita que as tragédias são raras, o que mais existem são chatices.

A escritora decreta que a maturidade é a oportunidade de se desfazer de idéias feitas. “A vida premia quem está em movimento”, declara, brincando que gosta tanto desta frase que nem lembra mais se é mesmo dela! E movimento para Martha é muito mais do que ir à academia. Também é. Mas se cuidar para ela é um conceito mais amplo. Não reclamar da vida e fazer o possível para lidar com tranqüilidade com as agruras da vida é uma das atitudes que ela passa da teoria à prática, através de um longo treinamento. E ostentando um lindo bronzeado tailandês, Martha amplia sua idéia de movimento. Ler, viajar, conversar com as amigas e ter hábitos saudáveis são regras básicas na sua vida. “É imprescindível cuidar da saúde, mas vale lembrar que mais importante do emagrecer é não emburrecer”, diz, centrando sua crítica na ditadura da beleza e lembrando o quanto a literatura, a música e o cinema são importantes para alimentar a alma. A leveza com a qual Martha vive, mesmo em meio à agenda abarrotada, se deve a um fator, segundo ela, determinante: não sentir culpa. Faz o seu melhor, mas não sente a menor culpa do que não conseguiu fazer ou do que acham que ela deveria ter feito.

“Me livrei das várias culpas que nós mulheres que dividimos as obrigações da vida profissional e familiar, temos. Minha agenda pode estar lotada, mas sempre há espaço para o ócio, ainda que seja um ócio criativo. Quando caminho, encontro meus amigos ou viajo e aproveito este tempo para criar. Mas não viajo com notebook. Observo o que vejo à minha volta e depois aproveito as ideias para minhas crônicas. Não falo nada que ninguém não saiba, mas as pessoas gostam da maneira que escrevo e isto me faz muito bem”, comenta. Ela acrescenta que não escreve, no entanto, pensando se vai agradar o leitor, mesmo porque seu público é heterogêneo e cada vez mais tem participantes do universo masculino. Ela escreve pensando no que ela sente. Quando escreveu Divã, o livro que deu origem ao brilhante filme interpretado pela não menos brilhante Lilian Cabral, Martha se inspirou na sua vida. A personagem Mercedes tem muito dela. Cada mulher, cada miss imperfeita, tem muito de Martha e ela pega um pouco de cada uma de nós para escrever textos fantásticos que falam diretamente ao nosso coração e andam cada vez mais falando também com o público masculino, que está interessado em sentimentos e relações humanas, ponto crucial nas crônicas da escritora.

Ela dá um recado para homens e mulheres que apreciam sua maneira de escrever: “Sejam felizes, curtam o agora, cultivem o desapego e elejam o que lhes dá prazer. Ser feliz por nada não é ser um bobo alegre, mas tirar os lamentos desnecessários que colocamos na vida. Simplificar”. Mais simples impossível. Simples como a gaúcha que mostrou elegância, humildade e sensibilidade, fatores que a consagraram como a queridinha da literatura nacional. E a queridinha de quem sabe que viver vale muito a pena. Fazer o possível e aceitar o improvável. Não foi isto o que ela disse? Então vamos à luta, apreciar as coisas simples e ser muito feliz. Por nada.

O visionário que marcou a moda mundial

Desabafos semânticos, Sem categoria

Conhecido como o visionário da moda e por ter sucedido com extrema competência John Galliano na Givenchy, em 1996, o estilista Lee Alexander McQueen nasceu em Londres, em 1969. Filho de um taxista e uma dona de casa, o caçula de seis filhoscomeçou a trabalhar com moda bem cedo. Aos 16 anos, desistiu de estudar e resolveu ser aprendiz dos alfaiates de SavileRow, a rua de moda masculina mais famosa da capital britânica.De lá, ele se mudou para trabalhar com o figurinista teatral Angels and Bermans, que o ajudou a se especializar em alfaiataria melodramática, o que acabou se tornando uma assinatura de McQueen.
Com 20 anos ele foi contratado pelo designer Koji Tatsuno, que também tinha suas raízes em alfaiataria britânica. Um ano depois McQueen viajou para Milão, onde foi empregado como Romeo Gigliï como assistente de design. Em seu retorno a Londres, ele completou um mestrado em Design de Moda no Central Saint Martins e antes mesmo de se formar, lançou sua grife. Caiu nas graças da professora Louise Wilson e, mais tarde, também chamou a atenção da editora de moda Isabela Blow. Nas passarelas de Paris sua própria marca chamava a atenção pelas apresentações teatrais e surpreendentes.
Reconhecido como o gênio da alta-costura, seu estilo trazia influências góticas em peças contemporâneas, que revelavam o contraponto entre fragilidade e força, tradição e modernidade. Alexander McQueen é conhecido por sua força emocional e pelo uso de matérias-primas energéticas, bem como a natureza romântica, mas decididamente contemporâneo nas coleções. Integral à cultura, McQueen é a justaposição entre os elementos contrastantes: a fragilidade e a força, tradição e modernidade, fluidez e intensidade. De um ponto de vista emocional e até mesmo abertamente apaixonado se fez com um profundo respeito e influência para a tradição artística e artesanal. As coleções de Alexandre combinam conhecimento profundo e trabalho de alfaiataria britânica sob medida, o fino acabamento dos ateliers franceses de alta costura e o acabamento impecável da fabricação italiana.
Já desenhou roupas para as personalidades como Björk, Beyoncé, Fergie, Rihanna, Janet Jackson, Mary J. Blige, Lady GaGa, Naomi Campbell, Sarah Jessica Parker, Br. Pionório, Cameron Diaz, Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anna Paquin, Katie Holmes, Camilla Belle, Michelle Obama e o Príncipe Charles.No casamento de Guilherme de Gales (príncipe William) com Kate Middleton a noiva usou um vestido da marca McQueen, criado por Sarah Burton, então diretora criativa.
McQueen era abertamente gay. No verão de 2000, casou com o documentarista George Forsyth. Foi encontrado morto no seu apartamento em Londres no dia 11 de fevereiro de 2010, após cometer suicídio, de acordo com o jornal Daily Mail. A morte de Alexander McQueen ocorreu dias antes da Semana de Moda de Londres. Apesar de seu desejo de que a grife se encerrasse com sua morte, foi sucedido por Sarah Burton. A exposição de seus modelos no Metropolitan Museum, em Nova York, no ano retrasado, levou milhares de fãs a ficarem horas na fila. E, eu, é claro, fui uma delas! Valeu a espera. Alexander McQueen mereceu.

Desfile em NY

O estilista que encantou a realeza inglesa

Exposição no Metropolitan, em NY